terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Luciana Vendramini: “Torço para que SBT e Record sejam tão grandes como a Globo”


A vida e carreira de Luciana Vendramini sempre foram marcadas por muita polêmica. Da capa de “Playboy” aos 16 anos, à luta contra o TOC, que lhe rendeu uma amizade com Roberto Carlos, e o suicídio do ex-namorado, a ex-modelo e ex-assistente de palco de Xuxa parece finalmente ter dado a volta por cima.
De volta às novelas – ela está escalada para “Amor e Revolução”, do SBT, como uma polêmica advogada que combate a ditadura – , Luciana tenta deixar todos seus problemas para trás e demonstra ser uma mulher forte, bastante inteligente, mas ainda com algumas inseguranças. “Eu não quis mudar, quis apenas me aceitar e consegui. Hoje posso dizer que sou um King Kong”, contou ela ao iG Gente em uma entrevista reveladora.
Paquita na Playboy
Nos anos 1990, Luciana ganhou fama de “ninfeta” após posar nua para “Playboy” aos 16 anos de idade. “Eu era emancipada e fiz as fotos por rebeldia, porque me achava moderna. Mas na verdade era uma caipira, careta e virgem. Acabei expulsa da Igreja”, diz.
Apesar de se negar a responder sobre o relacionamento com o roqueiro Paulo Ricardo, que durou oito anos, Luciana falou, pela primeira vez, sobre a morte do ex-namorado Dave Shayman, conhecido como Disco D, que se suicidou em 2007, apenas um mês após a separação. “Eu me senti impotente e culpada. Durante muito tempo eu me questionava se poderia ter evitado”, fala Luciana com a voz fragilizada.
A luta contra o TOC
“Eu fui minha pior inimiga”, diz ela sobre a época em que ficou enclausurada, vítima de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). E foi apenas depois de imergir no estudo que Luciana aprendeu a controlar seus impulsos e viu finalmente a luz do dia. A atriz cita até mesmo Platão e Aristóteles como autores que a ajudaram a superar as crises de saúde. “Encontrei a compreensão na filosofia”, diz ela, que já escreveu até livro sobre a experiência, mas se recusa a lançar para não parecer oportunista.
Atualmente, aos 38 anos, Luciana pensa apenas em se firmar na TV. “Eu quero ser a Oprah Winfrey daqui quinze anos”, diz ela que tem alguns projetos de programas escritos, mas ainda não dá detalhes. Enquanto isso não acontece, ela também tem vontade de montar algumas peças de teatro em parceria com amigos como o autor Marcelo Rubens Paiva, com quem mantém uma amizade de anos.
Leia a seguir o bate-papo completo com Luciana Vendramini:
iG: Você ficou um bom tempo afastada da mídia. O que te trouxe de volta?
Luciana Vendramini: Eu costurmo dizer que tive uma inflexão existencial. Precisei de um tempo para não ser engolida pelo trabalho. Eu vivi intensamente desde os 15 anos, não tive adolescência, não fui ao cinema com meus amigos. Aos 18 anos eu tive estafa, porque só dormia quatro horas por dia, e também tive anemia. Tive que puxar o freio de mão. Algumas coisas me ajudaram a ter essa inflexão, como foi o TOC. Nessa época eu me retirei de cena. Acredito que uma pessoa que está deprimida não pode sair gostosona na capa de revista, isso seria marketing! Então eu quis fazer uma coisa inteligente.
iG: Quem te ajudou nesse processo?
Luciana Vendramini: O Antunes Filho, a Bete Coelho e o Marcelo Paiva, que praticamente morou em casa durante um ano. Ele escreveu uma peça pra mim e, na reta final, eu não consegui fazer. Era um texto lindo, muito polêmico que falava sobre incesto. A gente passou um tempão convivendo, assistindo “Seinfeld” e escrevendo.
iG: Como eles te ajudaram?
Luciana Vendramini: Eles me ajudaram a colocar o pé no chão. A não deixar eu entrar na ansiedade de ter que estar na mídia.
“Eu vivi intensamente desde os 15 anos, não tive adolescência, não fui ao cinema com meus amigos. Aos 18 anos eu tive estafa porque só dormia quatro horas por dia”
iG: Hoje você liga pra isso?
Luciana Vendramini: Não mesmo. Eu nunca nem tive assessoria na vida, cuido de tudo eu mesmo no meu telefone. Nunca tive que cavar uma entrevista, uma matéria, apelar para noticias, nunca faria isso comigo. Não é digno, é golpe baixo.
iG: Mas ao mesmo tempo, você já fez muitos trabalhos sensuais…
Luciana Vendramini: Não tenho nada contra isso. O belo te faz olhar. Se você está andando na rua e vê um casal lindo, você olha. Mas se você vê dois maloqueiros brigando, passa reto. Quando começaram a me chamar de ninfeta, eu nem sabia posar, foi natural. Eu me assustava quando me chamavam de sexy, porque pensava que tinha a ver com sexo, ficava ofendida, porque eu era virgem! Uma coisa é provocar, outra é ser natural. Nunca fiz caras e bocas, sempre fui natural. É válido porque um dia eu vou envelhecer e vai ser legal mostrar pros netos. Menos a “Playboy”, é claro. Essa a gente guarda.
iG: Tem vergonha desses ensaios?
Luciana Vendramini: Eu sou um pouco moralista com educação, sou bastante careta. Apesar de meus pais terem criado a gente livre, todo mundo andando nu em casa, tomando banho junto, sem malícia. Mas se eu tiver filho não ia conseguir fazer foto nua. Acho difícil pra uma criança ver a mãe nua. Mas é uma questão de segurar a onda, como não segurei quando tinha 16. Eu fui levada.
“Eu fiz as fotos da “Playboy” aos 16 por rebeldia, porque me achava moderna. Mas na verdade era uma caipira, careta, virgem. Acabei expulsa da Igreja.”
iG: Como você enxerga hoje essa historia de ter posado nua aos 16 anos?
Luciana Vendramini: Eu era emancipada, respondia por mim mesmo. O documento de emancipação me dava direito de fazer o que quisesse. E eu fiz as fotos da “Playboy” aos 16 por rebeldia, porque me achava moderna.
iG: E você era, de fato, moderna?
Luciana Vendramini: Era nada! Era na verdade uma caipira, careta, virgem. Como estudei em colégio de freira, quando cheguei no Rio eu via o pessoal chegando com o biquíni por baixo da camiseta e achava aquilo demais. Eu usava roupa de freira, super careta, era do grupo de jovens, ficava rezando o dia inteiro. Quando eu posei nua, queria ser rebelde igual ao Cazuza. Eu fui expulsa da congregação. O padre que me batizou e crismou me expulsou durante uma missa. “A Luciana não é mais cristã. Ela não entra mais nessa igreja”, ele disse na missa mais importante da cidade, às seis da noite. Minha mãe chorava, inconformada. Hoje em dia eu tenho minha capelinha e estudo muito religião. Leio sobre o budismo, judaísmo e leituras mais secretas. Não quero ser doutrinada, quero saber a verdade. Quando eu deito a cabeça no travesseiro, converso com Shiva, Buda, Jesus. Peço que iluminem muito minha sabedoria.
iG: Isso te fez mal?
Luciana Vendramini: Foi ruim porque eu pulei etapas da minha vida. Esse hiato que tive de me afastar foi um momento de refletir tudo e me achar. Hoje sou mais feliz do que antes desses questionamentos.
iG: E você superou tudo?
Luciana Vendramini: Não digo todos meus problemas, mas estou muito bem. Virei até terapeuta de plantão. É um mergulho difícil. Uma coisa é perder o emprego e ir ao terapeuta pra chorar. Outra é querer se conhecer e tocar nas minhas feridas, aceitar meus defeitos. Eu não quis mudar, quis apenas me aceitar e consegui.
“Minha história com o Roberto Carlos foi puramente de amizade. De duas pessoas que tinham problemas iguais. Não tinha outra pessoa que eu poderia falar ‘ah, você também lava a mão assim e assado?’ e poder dar risada disso”
iG: Quais são seus defeitos?
Luciana Vendramini: Sou dramática, sofro demais. Não tenho humor para suavizar os problemas. Matou um peixe, eu faço velório. Eu enxergo só problemas, camuflados em medo. E medo é uma insegurança. Isso se resolve assoprando um algodão.
iG: Você tem muitos medos?
Luciana Vendramini: Não sou insegura, mas tenho meus medos. Medos bobos, tipo medo de dormir no escuro. Porque o medo de ficar louca já passou. Eu achei que ia ficar louca! Minha terapeuta falava que enquanto eu estava achando, estava ótima, porque o louco não sabe que ficou louco. Mas tenho outro defeito que é o controle. Tenho vontade de controlar tudo. Controle comigo, com as minhas coisas, de não saber delegar. Eu não bebo porque tenho medo de ficar bêbada. Não sei que cão ladra em mim.
iG: E esse livro sobre TOC que você escreveu?
Luciana Vendramini: Ele já está pronto, mas nunca lanço. É um tema que não gosto de ficar voltando, mas tenho vontade de editar. Ele é muito verdadeiro. Escrevi em Nova York, quando tive meu hiato. O Marcelo Paiva fala que eu tenho que editar, todo mundo diz. Quando eu tiver um tempo, eu lanço. Todos os meus questionamentos estão nesse livro. Na época, não existia bibliografia sobre o assunto e eu escrevi. Ainda não lancei porque tenho medo de ser oportunismo e ganhar dinheiro com um assunto que já passou.
iG: Você teve um caso com o Roberto Carlos?
Luciana Vendramini: Minha história com o Roberto Carlos foi puramente amizade. De duas pessoas que se respeitam e tinham problemas iguais. A gente falava e ria de nossos problemas com tanta propriedade, que só a gente podia conversar. Não tinha outra pessoa que eu poderia falar “Ah, você também lava a mão assim e assado?” e poder dar risada disso. A gente se divertia com as nossas manias. Ele é a pessoa que falava a minha língua. E ele é um grande caráter, muito recolhido e tímido. Somos amigos até hoje. Ele é uma pessoa de poucos amigos e eu também. Na época eu namorava um americano, não teve nada mesmo.
iG: Como você lidou com o suicídio do seu ex-namorado, o DJ Disco D?
Luciana Vendramini: Foi traumático, tanto que nunca falei sobre ele. A gente tinha se separado há um mês e até hoje não gosto de falar sobre isso. Eu estava no Brasil, foi logo depois que resolvi vir pra cá. Eu me senti impotente e culpada. Durante muito tempo eu me questionava se poderia ter evitado.
“O suicídio do meu ex namorado foi traumático, tanto que nunca falei sobre ele. Eu me senti impotente e culpada. Durante muito tempo eu me questionava se poderia ter evitado”
iG: Você entendeu por que ele se matou?
Luciana Vendramini: Demorei muito tempo, mas entendi. Ele era bipolar e não tomava os remédios frequentemente, sempre pulava os dias. Só tomava quando eu estava por perto, porque eu enfiava na garganta dele. E aconteceu isso. Foi terrível.
iG: Voltando ao TOC… Quando você sentiu que estava curada?
Luciana Vendramini: Quando eu saí andando pela rua sozinha, tranqüila, fazendo o que eu queria.
iG: Teve um estalo?
Luciana Vendramini: Total. Eu estava no Antunes e falei pra ele: “Eu equalizei o que precisava. Agora eu só quero melhorar”. Todo mundo me pede ajuda, mas tem que querer, não pode ser mimado e querer chamar atenção. Eu quis tratar, fui a fundo. Mergulhei no estudo, na psicanálise e na alopatia para entender como funciona o mecanismo, se preciso de remédio ou não. Hoje posso dizer que sou um King-Kong, extremamente fortalecida. Depois da tempestade vem a calmaria e é verdade. Eu sempre digo: “cuidado com os sobreviventes”.
iG: Encontrou todas as suas respostas?
Luciana Vendramini: Eu não sabia que eu era tão forte e podia superar tantas coisas, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Isso assustou meus médicos, minha família. Hoje me chamam de Highlander, porque fui muito guerreira. Eu queria ver o oco e vi de verdade. Li muita psicanálise: Freud, Lacan, Jung. Nesses livros eu encontrei as perguntas. Mas encontrei a compreensão na filosofia, em Platão, e Aristóteles que fala muito de ética e retórica.
iG: Você foi sua melhor amiga nesse tempo?
Luciana Vendramini: Eu fui minha pior inimiga nesse tempo! Eu me cobrava em tudo. Tinha que ser a melhor no balé, na natação, era um fardo. Eu tinha um chicote comigo. Depois do TOC que resolvi ser minha amiga. Foi aí que aceitei minhas imperfeições, minhas limitações.
“Eu achei que ia ficar louca! Minha terapeuta falava que enquanto eu estava achando, estava ótima, porque o louco não sabe que ficou louco”
iG: Qual foi o papel de sua família?
Luciana Vendramini: Eram eles quem baixavam minha bola. Minha mãe estava quase pedindo arrego, mas não desistiu. Ficou do meu lado e o tratamento só funcionou bem por causa deles. Foi nesse momento que passei a acreditar no amor incondicional, que pra mim até então era muito poético.
iG: Você toma remédios?
Luciana Vendramini: Hoje não mais, mas tomei e foi fundamental. O remédio foi 50% e a terapia cognitiva 50 da minha cura. No começo não queria tomar, porque sou naturalista. Tive que estudar, quase fui fazer faculdade. Conhecer a alopatia, a homeopatia.
iG: Você está solteira?
Luciana Vendramini: Estou em um momento delicado. De me recolher e avaliar. Estou repensando meu relacionamento.
iG: E a vontade de ter filhos?
Luciana Vendramini: Eu só consigo ter vontade de ter filho quando eu amo muito a pessoa. Já tive isso poucas vezes, apenas duas na minha vida. Mas ainda quero ter filho, daqui a uns dois anos. Hoje em dia até os 46 até que pode, mas não quero demorar. Eu sonho às vezes em ter uma “Família Doriana”. Mas não sei se é um sonho ou um desejo. Tenho medo de largar minha vida e ficar sem dormir. Mas agora não é o que eu estou sentindo. Agora o trabalho fala mais alto.
iG: Agora que está bem, quais são suas ambições?
Luciana Vendramini: Quero encontrar meu grande personagem, como muita gente encontrou. Todo ator tem essa oportunidade e eu ainda acho que vai ter um que vai mudar minha vida. Não tenho ambição de comprar uma mansão, pode ser só uma casa grande.
“Eu quero ser a Oprah Winfrey daqui quinze anos! Quando eu tiver uns 55 anos vou estar assim”
iG: E como está sendo gravar a novela?
Luciana Vendramini: A novela vai ser bastante polêmica, vamos falar sobre a ditadura sem o rabo preso. A minha personagem é muito polêmica também. Interpreto a Dra. Marcela, advogada que também é jornalista. Ela abraça a causa dos torturados e faz mutirão de habeas corpus com os prisioneiros. Ela não tem partido, é em prol dos direitos humanos.
iG: O que ela tem de polêmica?
Luciana Vendramini: Nos anos 60, uma advogada mulher bonitona não existia. Eu soube apenas de uma na minha pesquisa. Rosa Gonzaga, conhecida como Rosinha, que era muito bonita e delicada, mas era um macho na hora de combater a repressão. Eu não queria fazer um estereótipo, eu quero fazer ela bem Grace Kelly, uma mulher moderna, envolvida com moda.
iG: Como foi sua preparação?
Luciana Vendramini: Quando me chamaram, comecei a assistir a filmes de época para entrar no clima, no elã da coisa. Da roupa à postura, como segurar o telefone, o caderno… Fiquei focada em como as mulheres se comportavam, se sentavam, é o que mais ajuda. Não quero fazer uma advogada caricata. Propus a mudança do cabelo, inspirada em filmes da Jane Fonda. Na época não existia luzes, era uma cor só. Quando eu vi a Jane Fonda em “Barbarella” escolhi o tom que eu queria.
iG: Atualmente como você encara seu lado profissional?
Luciana Vendramini: Agora estou com fogo na TV! A TV é o nosso cinema. A cultura de sua diarista assistir, o cabeleireiro, a dona da butique é muito globalizado e muito divertido. Eu estava sentindo falta disso. Antes estava no teatro, que eu amo, mas queria mudar. Nosso país é um país de novela, não é de teatro. Se estivéssemos no TBC dos anos 1950, talvez. Nos tempos de Cacilda Becker, quando ir ao teatro era um evento. Hoje em dia, as pessoas vão ao teatro de chinelo.
iG: E quais são suas metas dentro da TV?
Luciana Vendramini: Eu quero ser a Oprah Winfrey daqui quinze anos! Eu falo isso o tempo inteiro. Quando eu tiver uns 55 anos vou estar assim. Porque ela é inteligente e aborda os assuntos de um jeito diferente, ela não faz o óbvio.”Eu só consigo ter vontade de ter filho quando amo muito a pessoa. Tive isso apenas duas vezes na vida. Eu sonho em ter uma “Família Doriana”. Mas não sei se é um sonho ou um desejo”
iG: Quer apresentar um programa?
Luciana Vendramini: Eu tenho uns dez projetos escritos, mas só de falar dá arrepios. Dois deles são programas de TV, que estou negociando com algumas emissoras, mas ainda é cedo para falar. Eu quero ter um programa para falar de cultura, moda, beleza. Por enquanto vou continuar a fazer novelas e tenho uma peça para este ano ainda.
iG: Você tem vontade de voltar para a Rede Globo?
Luciana Vendramini: Gostaria sim. Eu já tive convites, mas na hora de fechar, fui para o SBT. Eu voltaria amando porque conheço o esquema todo, trabalhei a vida inteira lá e conheço todo mundo. Mas é gostoso ficar na minha casa, que é São Paulo. Hoje eu torço para a Record e o SBT serem tão grandes quanto a Globo, e os atores não podem ter preconceito. O ator tem que acreditar que é válido trabalhar nas três, senão o mercado vira um monopólio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário