domingo, 13 de fevereiro de 2011

‘Aline’ volta com histórias rápidas de uma cidade grande

Maria Flor protagoniza a série 'Alice'. Foto: DivulgaçãoMaria Flor protagoniza a série ‘Alice’
Foto: Divulgação
Mauro Trindade
Charges e tirinhas de quadrinhos possuem uma deliciosa característica: a concisão. Quer dizer, toda a piada e seu contexto têm de ser entendidos em poucas imagens reduzidas ao extremo. A série Aline, que semana passada voltou à Globo em sua segunda temporada, possui a mesma qualidade. Mas o que é economia de espaço em jornal ou revista – e, cada vez mais, na internet – é economia de tempo na TV. As piadas são velozes e quem cochilou ou não entendeu, perdeu.
Aline, baseada nos ótimos quadrinhos de Adão Iturrusgarai, oferece uma narrativa que já foi experimentada outras vezes na televisão. Como em Armação Ilimitada, por sinal, outro triângulo amoroso e com a mesma riqueza de referências ao do mundo pop. Não é à toa que a equipe do figurinista Antônio Medeiros conta com o apoio de 15 profissionais, enquanto a cenografia de João Hani e Luclésio Santana acumula 16 outros.
O resultado visual é uma imagem permanentemente carregada de novas informações, que não dão descanso ao olho do telespectador. E nem aos ouvidos, graças à variadíssima música incidental garimpada por Branco Mello e Emerson Villani.
Mas o que torna a série realmente interessante não é apenas o exercício estilístico, bem dirigido por Maurício Farias, sobre texto de Mauro Wilson. O melhor é a possibilidade de uma vida nova, bem diferente do modelo oferecido pela teledramaturgia tradicional. Aline escapa gloriosamente das tramas de mocinhos e bandidos dos folhetins, da ação gerada unicamente pela vilania, incapaz de suportar o bom-mocismo sorridente dos herois da tevê. Em Aline, não existe a necessidade de uma babá alpinista social ou de uma milionária assassina. A trama é verdadeiramente episódica. É um acontecimento qualquer que altera os acontecimentos, bem distantes dos escritórios chiques e sérios do núcleo rico e do humor rastaquera dos pobretões dos subúrbio das telenovelas.
Otto, de Bernardo Marinho, Aline, de Maria Flor, e Pedro, de Pedro Neschling, representam uma outra oportunidade de vida, sem relações definidas nesse estranho núcleo familiar. São três, mas são um casal. Tem trabalho, mas ninguém sabe qual é. E se viram igual a tantos outros que não cabem no enredo de um novela.
É adequado que a série se passe em São Paulo, não a cidade dos “stock shots” manjados, que só conseguem ver engarrafamentos sem fim. Aline enxerga com muita nitidez a real dimensão da maior cidade brasileira: a humana. Ali vivem 19 milhões de pessoas que podem se esbarrar a qualquer momento, real característica de uma metrópole. A série tem algo dessa infinita possibilidade da diferença e do acaso. É o que também faz uma cidade grande.

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